Couves Galegas de Portugal - L'éternité par les choux

É um fascículo da publicação “Ficha Técnica” editada em Dezembro de 2020, pelo “Gabinete Paratextutal”, inserido no programa de doutoramento em Materialidades da Literatura.

A maior parte das fotografias foram feitas durante o Verão, durante o qual este tipo de couve se mantém, apesar da seca e outras adversidades, pelos cantos de Portugal. As couves exibem-se resistentes como as hortas de subsistência que as albergam.
A acompanhar a série fotográfica “L’Éternité par les choux” há um texto que parte das inquietações advindas do estranho ano de 2020 em que são abordadas as questões da criatividade e da imaginação, do qual se segue um excerto:

“Quando era criança, preferia imaginar a fazer. Recordo-me de me aborrecer nas brincadeiras com o meu vizinho porque, no tempo que ele tomava a encenar a diversão seguinte, eu já me tinha esquecido daquilo a que brincávamos, já havia viajado mentalmente por tanta coisa e não me recordava mais do ímpeto que nos levara a querer brincar. Muitas vezes, só, ficava apenas quieto a imaginar. Permanecia no limbo do «eu queria», no pretérito imperfeito, uma acção que depende de outra ou que se pode alongar no tempo de forma indefinida.
A imaginação é do campo da hipótese.
(...)
Tem-se dito que imaginar o fim do capitalismo é mais difícil do que imaginar o fim do mundo, talvez porque o apocalipse é da ordem do espectáculo, mas o fim pode ser apenas um último suspiro silencioso, que pode estar mais perto do que uma grandiosa encenação distante. Se calhar, não estamos a imaginar bem. Afinal, imaginar é, em parte, ficar quieto. As couves sabem bem como fazê-lo ou, pelo menos, como construir a aparência da quietude para um humano. O tempo da couve é outro, não o do rápido e voraz evento. Se não for também por isto que quero fotografá-las, será porque sim, porque o seu recorte na paisagem é belo.
Qui dit «c’est beau» reconnaît une aptitude
à traverser les temps et à un émouvoir d’autres que moi. Le «c’est beau»: plus qu’un brevet de qualité, un certificat de pérennité. Cela ex-iste, con-siste, se tient debout. Fera signe et repère. Là est «le miracle de l’art»: la supression des distances. «Miracle» veut simplement dire: pérennité du précaire, coextension de l’origine à l’histoire.*”


Ei-las aí, as couves, belas!”

*Régis Debray (1992). Vie et mort del’image. Paris: Éditions Gallimard.

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